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sábado, 10 de outubro de 2009

Restauração



A restauração do David de Michelangelo, uma das esculturas mais famosas do mundo, começou nesta segunda-feira, envolvida na polêmica, diante dos olhos dos visitantes que, como todos os dias, chegaram à Galeria da Academia, em Florença.A limpeza da imponente estátua do pastor da casa de Israel, de 5,16 metros de altura, desencadeou nos últimos meses um acalorado debate, que culminou na demissão, em março, da chefe dos trabalhos, Agnese Parronchi.A restauradora defendia uma intervenção de pouca intensidade, com o uso de pincéis suaves, borrachas e camurça, "para não uniformizar a superfície da escultura".Mas tanto o superintendente de Bens Artísticos da região da Toscana, Antonio Paolucci, como a diretora da Galeria da Academia florentina, França Falleti, acabaram optando por uma limpeza úmida.A técnica úmida consiste no uso de compressas impregnadas com água destilada aplicadas sobre o mármore durante períodos de até vinte minutos para eliminar o pó, a cêra e o gesso detectados em 61 pontos da gigantesca fisionomia de mármore do David.Na chefia da restauração está agora Cinzia Parnigoni, que dirigiu os primeiros trabalhos, enquanto terminava a montagem dos andaimes na presença dos visitantes da Galeria, que continuará aberta sem restrições.Como já ocorreu com outras obras de arte famosas, como o Moisés, também de Michelangelo, exposto na igreja romana de São Pedro in Montorio, o público poderá acompanhar os trabalhos de restauração até sua conclusão, em meados de 2004.A intervenção estará terminada para a celebração dos quinhentos anos da primeira exposição ao público de David, no dia 8 de setembro de 1504.Encarregada ao gênio renascentista Michelangelo Buanarroti (1475-1564) pelo Governo de Florença como símbolo do poder e liberdade da então poderosa República, a estátua ficou na nevrálgica praça da Signoria, onde ficou até 1873, quando foi substituída pela réplica que se pode ver atualmente no local.Até então, a intempérie tinha contribuído para seu paulatino deterioração, junto com o raio que atingiiu sua base em 1512 e a revolta popular contra a família Medici, durante a qual perdeu o braço esquerdo, depois reposto de maneira nada exemplar.Também não foi nada ortodoxa a limpeza a que foi submetido o David com ácido clorídrico em 1843 e que eliminou sua pátina lustrosa.Seu último percalço, já sob o teto da Academia florentina, data de época recente, 1991, quando um desequilibrado destruiu com pancadas um dedo do pé esquerdo, depois reconstruido com o mesmo pó desprendido pelos golpes.Cinzia Parnigoni se mostrou reticente em falar da polêmica suscitada pelo método escolhido, mas defendeu a oportunidade da intervenção contra seus detratores, encabeçados pelo professor de arte nova-iorquino James Beck, fundador de Artwatch International.Há poucos meses, Beck, da mesma forma que já fizera em outras ocasiões com obras de arte famosas, fez um apelo contra a restauração do "David", reproduzida pelo The New York Times em sua primeira página.Diversos especialistas italianos e estrangeiros se somaram ao lado dos detratores, fazendo com que a controvérsia sobre o método de limpeza adquirisse nova dimensão, que provavelmente acompanhará a escultura de Michelangelo durante todo o processo de restauração.

Fonte:

http://diversao.terra.com.br/interna/0,,OI136846-EI1540,00.html

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